PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM SOBRE O ESTRESSE NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

NURSING STAFF PERCEPTION OF STRESS IN THE INTENSIVE CARE UNIT

PERCEPCIÓN DEL PERSONAL DE ENFERMERÍA SOBRE EL ESTRÉS EN LA UNIDAD DE CUIDADOS INTENSIVOS

AUTORES:

Ana Paula Santos e Silva - Enfermeira; Pós Graduação em Auditoria em Saúde Pública, FAESB-SP. Pós Graduanda em Urgência e Emergên-cia, UFPA.ORCID: 0000-0002-8075-3840

Sérgio Ferreira Tannús - Enfermeiro; Mestre em Saúde Ambiental e Saúde do trabalhador PPGAT pelo programa de pós-graduação da Universidade Federal de Uberlândia.ORCID: 0000-0003-3504-1737

Albertina Martins Gonçalves -  Enfermeira; Doutorado em biotecnologia e inovação pela Anhanguera. Mestre em Unidade de Terapia Intensiva pela SOBRATI. Especialista em Unidade de Terapia Intensiva e Saúde da Família.ORCID: 0009-0008-7757-3209

Rafael de Carvalho dos Santos - Enfermeiro; Mestre em desenvolvimento Local pela Universidade Augusto Motta. Especialista em Docência em enfermagem pela universidade Candido Mendes, Especialista em Urgência e emergência pela Uninter, Especialista em terapia intensiva pela Uninter, Especialista em Cardiologia e Hemodinâmica pela Unyleya, Docente pela Faculdade Bezerra de Araújo – FABA.ORCID: 0000-0002-4219-0151

Maristela Rodrigues de Jesus - Enfermeira; Especialista em: Preceptoria em Saúde/ES/UFRN/202; Centro Cirúrgico e CME/CBPEX/FAPEX/2019; Urgência e Emergência / Uninter/2013; Saúde da Família na Atenção Primária Uninter/2012. Enfermeira Assis-tencial do HULW.ORCID: 0009-0006-5856-1849

Fransueide Sales de Medeiros - Assistente Social; Especialização em Politícas de Proteção Social e Serviço Social pela Faculdade São Francisco da Paraíba (2013).ORCID: 0009-0003-8985-7624

Fernanda de Freitas Ferreira - Enfermeira; Especialista: Enfermagem em Nefrologia, Enfermagem do trabalho e Auditoria em serviços de saúde. Mestranda da Universidade Federal Fluminense.ORCID: 0009-0009-4812-5068

Cássia Maria da Silva Bento - Enfermeira; Graduação em Enfermagem. Vinculada ao Hospital Universitário Lauro Wanderley como técnica de Enfermagem.ORCID: 0009-0002-1005-9594

RESUMO

Objetivo: conhecer na percepção da equipe de Enfermagem a presença dos fatores estressores no ambiente da Unidade de Terapia Intensiva da UTI-A. Método: Estudo de caso, com a realização de uma entrevista com roteiro, sendo 6 (seis) questões para 16 (dezesseis) profissionais da equipe de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva adulto do Hospital de Clínica Gaspar Viana, em Belém/PA. Resultados: Possibilitou a compreensão acerca do estresse ocupacional, sobre o trabalho da equipe de Enfermagem em UTI, bem como sinalizou os possíveis fatores estressores no referido setor hospitalar. Discussões: A Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente com inúmeros estressores, tais como ruídos, falta de materiais, desconhecimento do uso de tecnologias e procedimentos rápidos. Conclusão: Conclui-se que é um local de trabalho insalubre, atendimento de pacientes graves e assistência às suas famílias, com número reduzido de funcionários e sobrecarga de trabalho.

Palavras-chave: Equipe de Enfermagem. Estresse ocupacional. Unidades de Terapia Intensiva.

ABSTRACT

Objective: to understand the Nursing team's perception of the presence of stressors in the ICU-A Intensive Care Unit environment. Method: Case study, carrying out a scripted interview, with 6 (six) questions for 16 (sixteen) professionals from the nursing team of the adult Intensive Care Unit at Hospital de Clínica Gaspar Viana, in Belém/PA. Results: It made it possible to understand occupational stress and the work of the Nursing team in the ICU, as well as highlighting possible stressors in the aforementioned hospital sector. Discussions: The Intensive Care Unit is an environment with numerous stressors, such as noise, lack of materials, lack of knowledge about the use of technologies and quick procedures. Conclusion: It is concluded that it is an unhealthy place to work, care for seriously ill patients and assist their families, with a reduced number of employees and work overload.

Keywords: Nursing team. Occupational stress. Intensive Care Units.

RESUMEN

Objetivo: Conocer la percepción del personal de enfermería sobre la presencia de factores de estrés en el ambiente de la Unidad de Terapia Intensiva. Método: Se trató de un estudio de caso en el que se formularon seis (6) preguntas a 16 (dieciséis) miembros del personal de enfermería de la Unidad de Cuidados Intensivos de adultos del Hospital Clínico Gaspar Viana de Belém/PA. Resultados: Proporcionó una comprensión del estrés laboral y del trabajo del equipo de enfermería de la UCI, además de señalar los posibles factores de estrés en este sector hospitalario. Discusión: La Unidad de Cuidados Intensivos es un ambiente con numerosos factores estresantes, como el ruido, la falta de materiales, el desconocimiento del uso de la tecnología y la rapidez de los procedimientos. Conclusión: Es un lugar insalubre para trabajar, atendiendo a pacientes en estado crítico y a sus familiares, con un número reducido de personal y una gran carga de trabajo.

Palabras clave: Personal de enfermería. Estrés laboral. Unidades de Cuidados Intensivos.

RECEBIDO: 06/09/2023 APROVADO: 28/11/2024

TIPO DE ARTIGO: Relato de Literatura

INTRODUÇÃO

A Enfermagem entra na lista das profissões mais desgastantes devido ao contato com doenças, ao qual estão expostos estes profissionais. Do ponto de vista etiológico, há fatores de risco de natureza física, química, biológica e psíquica¹. Essa condição ocorre porque as atividades conferidas legalmente ao enfermeiro demandam muita atenção, discernimento e responsabilidade, fazendo com que os fatores psicossociais desencadeados pelas atividades laborais desse profissional condicionem ao aparecimento do estresse no trabalho².

A enfermagem como profissão é reconhecida há mais de 50 anos e considerada, até então, como uma das mais estressantes. Particularmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), estudos têm mostrado que os profissionais de enfermagem que atuam nesse ambiente enfrentam elevados níveis de estresse³.

Na UTI encontram-se pacientes internados que demandam cuidados diretos e intensivos, pois seu quadro clínico de saúde pode facilmente evoluir para a morte, além de ser considerado um setor fechado onde a comunicação com outros setores é bastante restrita4. Compete ao enfermeiro intensivista gerenciar crises, dar assistência a familiares, prever complicações relacionadas ao ambiente tecnológico, estabelecer e controlar várias etapas da execução do trabalho grupal da equipe de enfermagem, comandar a condução das equipes, gerenciar a unidade e todos os recursos indispensáveis à recuperação dos pacientes, pronunciar as múltiplas perspectivas que permeiam o entendimento, negociação e reprodução, mantendo as normas institucionais5.

Nessa perspectiva, entende-se que, com um maior número de usuários internados, com maior gravidade, aumente, também, o volume de trabalho. No entanto, a inquietação gira em torno das constatações empíricas, visto que é de responsabilidade do enfermeiro correlacionar as necessidades de cuidados de enfermagem com o quantitativo de pessoal disponível, enfatizando a importância de tratar a qualidade da assistência positivamente em prol da segurança do paciente, proteção da integridade da equipe de enfermagem e visualização de resultados, frente a esforços porventura aplicados6. Assim, o objetivo geral desta pesquisa é conhecer como a rotina de trabalho nas Unidades de Terapia Intensiva Adulto (UTI-A) pode gerar fatores estressores para a equipe de enfermagem.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de estudo de caso, que se pautou na análise dos fatores estressores no ambiente de trabalho na UTI-A para a equipe de enfermagem. Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, de Belém/PA obtendo a aprovação no CEP nº 50/18 para a realização desta pesquisa na instituição hospitalar. Além disso, os participantes da pesquisa foram esclarecidos sobre o estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para melhor fundamentação e análise dos dados colhidos durante a pesquisa, utilizou-se a entrevista com roteiro e autorização a gravação de voz, para coletar as falas dos participantes da pesquisa durante a entrevista. A pesquisa ocorreu no mês de agosto, ano de 2018, após aprovação no comitê de ética da instituição.

A pesquisa foi realizada com 16 profissionais da equipe de Enfermagem do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, com 8 participantes da pesquisa do turno da manhã e 8 participantes da pesquisa do turno da tarde .Utilizou-se como critério de inclusão dos participantes da pesquisa: atuarem na UTI adulto do hospital. Não foram variáveis relevantes para a pesquisa as questões de gênero e de nível socioeconômico. Para os critérios de exclusão dos participantes da pesquisa: Os que encontraram se de férias, licença médica ou de folga no período da coleta de dados, profissionais contratados temporariamente.

RESULTADOS

Participaram da pesquisa 16 profissionais da equipe de Enfermagem do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, da UTI adulto, sendo 8 da manhã e 8 da tarde. Não foi possível realizar a pesquisa com os participantes da pesquisa do turno da noite em virtude da falta de disponibilidade de tempo das pesquisadoras na realização de um estudo norturno. Os participantes da pesquisa são formados por 15 pessoas do sexo feminino e 1 do sexo masculino, na faixa etária entre 30 e 54 anos, sendo possível encontrar 4 enfermeiros especialistas, 0 auxiliares de enfermagem e 12 técnicos de enfermagem, com tempos de serviço na UTI da instituição que variam entre 1 ano e 2 meses a 26 anos. Em relação à carga horária semanal, 12 participantes da pesquisa demonstraram de 30 horas e 1 de 36 horas e 3 de 40 horas. É possível verificar, no quadro 1 a seguir, o perfil sociodemográfico e profissional dos profissionais da pesquisa.

Quadro 1 - Caracterização do Perfil Sociodemográfico e profissional dos participantes da pesquisa:

 

P A

P B

P C

P D

P E

P F

P G

P H

P I

P J

P K

P L

P

M

P N

P O

P P

PS

 

AG SS

 

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F

F

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F

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34

50

42

49

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38

48

37

30

41

40

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TS UTI

 

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15a

 

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3a

 

20a

 

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22a

 

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10a

 

14a

 

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TE UTI

 

 

15a

 

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26ª

 

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10a

 

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1a

 

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20a

 

10ª

CH S

 

30h

 

30h

 

30h

 

30h

 

40h

 

30h

 

30h

 

30h

 

40h

 

36h

 

40h

 

30h

 

30h

 

30h

 

30h

 

30h

AF P

 

09

 

90

 

01

 

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00

 

11

 

96

 

94

 

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95

 

05

 

04

 

04

 

11

 

97

 

02

T

 

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M

 

M

 

M

 

M

 

M

 

M

 

M

 

T

 

T

 

T

 

T

 

T

 

T

 

T

 

T

Fonte: Criado pelas autoras a partir da entrevista com os participantes da pesquisa.

PS = Pseudônimo; CSH = Carga Horária Semanal; M = Masculino; F = Feminino; S = Sexo; AFP = Ano de Formação Profissional; EE = Enfermeiro Especialista; I = Idade; T = Turno; TC -= Técnico de Enfermagem; MA = Manhã; TA: Tarde; CP = Categoria; P = Participante; TSUTI = Tempo de serviço na UTI; a = anos; m = meses; h = hora.

Foi realizada uma entrevista com os participantes da pesquisa, utilizando um roteiro de entrevista e um gravador de voz. O roteiro de entrevista era composto por seis questões que investigam a percepção dos profissionais da equipe de enfermagem. Os resultados das entrevistas estão categorizados a seguir, conforme as percepções dos participantes da pesquisa.

PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ACERCA DOS FATORES ESTRESSORES NO AMBIENTE DA UTI 

A partir da entrevista sobre as perguntas em relação aos fatores estressores que acometem o ambiente da UTI, 4 participantes da pesquisa afirmaram o desconhecimento no manuseio dos aparelhos tecnológicos, 10 sinalizaram os ruídos, 11 indicaram a falta de materiais, 9 atribuíram aos procedimentos rápidos, 5 argumentaram ser o trabalho em ambiente insalubre, 4 apontaram o atendimento a familiares de pacientes graves e 4 indicaram a prestação de assistência a pacientes graves.  Além disso,  1 participante elencou que a sobrecarga de trabalho também é um estressor na UTI, bem como 1 (um) participante apontou o relacionamento na equipe de enfermagem e multidisciplinar.

Os resultados sobre experiências em outras UTI’s evidenciaram que 15 participantes da pesquisa afirmaram ter experiência em outras UTI’s, sendo 13 participantes na UTI especializada, 5 na pediátrica e 1 na neonatal. 1 participante não afirmou ter experiência em outras UTI’s.

Os resultados em relação à comparação se o estresse no ambiente é o mesmo em outras UTIs e na que atualmente atuam mostram que 7 pessoas afirmaram ser o mesmo, justificando em virtude da carga de trabalho ser intensa, pelas cobranças acerca dos procedimentos rápidos, pelo esforço contínuo em salvar vidas de pacientes graves, pelos ruídos, por procedimentos rápidos, pelo número reduzido de funcionários, pela falta de materiais.

Dentre os participantes, 9 não afirmaram que o ambiente de estresse é o mesmo, argumentando que a experiência em UTIs de hospital particular é diferente, por disponibilizar de mais leitos, são mais atendimentos e as famílias cobram mais; pela pouca permanência de pacientes em UTIs pediátricas e por serem mais tranquilas por conta do perfil dos pacientes; em contrapartida, alguns participantes indicam que a UTI pediátrica é mais complexa pelo fato de as crianças chorarem bastante e pelos procedimentos invasivos que é difícil para a equipe de enfermagem; ainda alguns argumentaram não pensar em nenhum dos ambientes estressantes.

No que tange à percepção dos participantes da pesquisa sobre qual a UTI mais estressante, os resultados apresentam 2 participantes que apontaram a pediátrica como a mais estressante, justificando que os pais exigem da equipe um “milagre”, que a família nunca acha que o trabalho da equipe de enfermagem é o suficiente, pela dificuldade em lidar com mortes de crianças.

Dentre os participantes, 9 apontaram UTI adulto como a mais estressante, argumentando que o trabalho é mais cansativo pelo peso dos pacientes, pelo atendimento a pacientes crônicos, pelo hospital-escola, muitos procedimentos ao mesmo tempo, alguns profissionais acabam trazendo problemas pessoais para o ambiente de trabalho, falta de cumprimento da lei para o descanso da equipe de enfermagem, o recebimento de pacientes de outros hospitais que dão entrada na UTI em péssimas condições e a equipe precisa estabilizar esses pacientes, por conta dos cuidados amplos associados a patologias diversas com exigência de tecnologias e atenção adequadas.

Ainda houve 1 participante que destacou a UTI neonatal como a mais estressante em virtude de os pacientes serem RN em estado grave de saúde, sendo necessário cuidados extremamente minuciosos na manipulação do paciente e durante os procedimentos. Por não terem experiência em outras UTIs a não ser no adulto, 4 participantes apontaram não conseguirem realizar uma comparação com outra especialidade.

Na análise sobre se seu ambiente de trabalho é um causador estressante, 14 participantes da pesquisa afirmaram, argumentando sobre a ineficácia na comunicação entre a equipe de enfermagem e as equipes multidisciplinares, pelo vínculo construído entre profissional e paciente, a dificuldade em lidar com a dor e a morte, pela sobrecarga de trabalho, por excesso de cobrança, devido à falta de materiais, precisando reutilizar alguns como o capote, as relações entre os profissionais da equipe, pelo fato de ser hospital-escola, mas sem treinamento da equipe, por conta de vários procedimentos que precisam ser realizados ao mesmo tempo e bem rapidamente, além da falta de reconhecimento e respeito com o profissional, desrespeito do momento de descanso e refeição da equipe, plantões exaustivos e longos, os ruídos, número reduzido de funcionários, imposição de regras sem o consentimento da equipe.

Contudo, 2 participantes não afirmaram seu ambiente de trabalho como causador estressante, evidenciaram que gostam de seu ambiente de trabalho, argumentando que o estresse já vem de fora com o profissional por motivos diversos, destacando que se sente privilegiada em seu ambiente de trabalho, pois a função de Enfermagem é ajudar a salvar vidas, a recuperar, a cuidar do amor de outras pessoas, sendo gratificante poder ajudar e acolher.

DISCUSSÃO 

Os resultados do estudo comprovam que vários são os fatores estressores na Unidade de Terapia Intensiva na percepção da equipe de enfermagem, confirmando o que Piedade et al.5 destaca quando afirma que a UTI representa um dos ambientes hospitalares mais preocupantes no que se refere ao estresse ocupacional e como salienta Cabral et al.7 que é considerada como um dos locais mais ofensivos e traumatizantes para pacientes e profissionais, tendo em vista como aponta um dos participantes da pesquisa que relata em sua fala durante a entrevista “que todo o funcionamento da UTI pra ser perfeito precisa da Enfermagem, precisando estar atento a tudo o que acontece com os pacientes, sinais vitais, pressão arterial, se um paciente ficar sem a medicação, se abrir lesão por pressão no paciente, a cobrança recai sobre o enfermeiro. Agora é norma o banho para os pacientes, mas a instituição não disponibiliza cadeira de banho, e os enfermeiros precisam acompanhar o banho do paciente”.

Desse modo, vai ao encontro de Piedade et al.5 que cita a UTI como um sistema complexo que demanda tomada de decisão rápida, postura de alerta diante do monitoramento dos pacientes e expectativa de intercorrências, admissões e óbitos, tendo em vista o que Guerrer e Bianchi4 sinalizam quando caracterizam os pacientes internados na UTI como indivíduos que exigem cuidados diretos e intensivos, uma vez que seu quadro clínico de saúde pode facilmente evoluir para o óbito.

Os profissionais das equipes de enfermagem apontam inúmeros fatores estressores, dentre eles estão o desconhecimento do uso das tecnologias, ruídos, falta de materiais, procedimentos rápidos, trabalhar em um ambiente insalubre, atender familiares de acidentes graves, prestar assistência a pacientes graves, e ainda acrescentam elementos como a sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento do profissional com a equipe muldisciplinar, problemas na relação interpessoal dentro da equipe e número insuficiente de funcionários.

Assim, estes fatores se convergem à ideia de Batista e Bianchi8 que elencam os seguintes aspectos como principais estressores: número reduzido de funcionários compondo a equipe de enfermagem, a falta de respaldo institucional e profissional; carga de trabalho; necessidade de realização de tarefas em tempo reduzido; indefinição do papel do profissional; descontentamento com o trabalho; falta de experiência por parte dos supervisores; falta de comunicação e compreensão por parte da supervisão de serviço; relacionamento com familiares; ambiente físico da unidade; tecnologia de equipamentos; assistência ao paciente e relacionamento com familiares.

A presença de ruídos constantes na UTI, já apontada por Cabral et al.7, a falta de materiais, que é relatado por alguns participantes da pesquisa que alguns materiais como o capote, precisam ser reutilizados, o que é muito prejudicial, além da sobrecarga de trabalho e número reduzido de funcionários, tendo em vista que, como alerta Rodrigues et al.9 sobre a orientação da Portaria GM/MS nº 1.071, de 04 de julho de 2005, que dispõe sobre a Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico, os enfermeiros precisam se atentar à qualidade dos materiais que utilizam no atendimento ao paciente, e, ainda, estabelece que a composição mínima para a equipe de enfermagem de UTI exige um enfermeiro coordenador, responsável pela área de enfermagem; um enfermeiro assistencial por turno, exclusivo da unidade, para cada 10 leitos/fração; um técnico de enfermagem para até dois pacientes, sendo que os funcionários precisam ser calculados com base em alguns aspectos como planta física, número de leitos, características do hospital, grau de dependência dos pacientes, qualificação dos trabalhadores, quantidade e qualidade dos equipamentos.

Essa sobrecarga de trabalho é bastante sinalizada pelos participantes da pesquisa como um fator estressor muito significativo, onde eles revelam que chegam a fazer, por muitas vezes, turnos de 12 horas sem intervalo para descanso, tendo um dos participantes da pesquisa apontado que, durante sua entrevista, já estava a 24 horas de plantão, pois não havia funcionário para substituí-lo, alegando que, além dos cuidados e procedimentos voltados aos pacientes, ainda precisam realizar funções administrativas como atender telefones, preencher relatórios, conversar com os médicos diaristas.

Assim, entra em consonância com a concepção de Silva et al.10 quando aponta que a rotina de trabalho para grande parte dos profissionais na UTI se mostra insatisfatória e até frustrante, uma vez que precisam desempenhar inúmeros papéis dentro da Unidade, gerando uma sobrecarga, a qual, como afirma Garcia6 varia conforme o grau de dependência dos usuários, da severidade da doença, do tempo de trabalho, da complexidade das atividades e das atividades não relacionadas ao cuidado.

Além disso, como concebe Rocha e Martino11, as funções sempre em ritmo acelerado, as jornadas excessivas e o turno de trabalho são fatores que podem desenvolver o estresse ocupacional, ilustrando-se nas contantes exigências de procedimentos rápidos que os profissionais da equipe de enfermagem entrevistados revelam como um estressor.

Dos 16 profissionais entrevistados, 9 apontam a UTI adulta como a mais estressante, justificando que são exigidos muitos procedimentos ao mesmo tempo, as patologias são mais severas e a exigência é maior. Dessa maneira, concorda-se com Oliveira12 quando pontua que os ambientes com maior demanda de cuidados aos pacientes são os mais estressantes e que exigem mais carga de trabalho.

A carga de trabalho excessiva se intensifica, como apontado pelos participantes da pesquisa, pelo número reduzido de funcionários e pela constante troca de funcionários, pois, em alguns casos, pela ausência de algum profissional da equipe de enfermagem, a instituição remaneja um profissional de outro setor para suprir esta falta. Contudo, isso se torna prejudicial a partir do momento em que um indivíduo que não possui experiência na UTI precisa ser orientado e acompanhado pela equipe que, ainda precisa dar conta de sua carga de trabalho.

Isso constata o que Perão13 ressalta sobre a necessidade de uma formação específica em alta complexidade para o profissional que trabalha na UTI, a fim de habilitá-lo para avaliar a evolução de pacientes graves e intervir em situações críticas, conhecer, saber manusear os equipamentos instalados na UTI, praticar os cuidados de enfermagem com segurança e registrar todos os dados e informações sobre os pacientes atendidos. Logo, conforme Preto14, o profissional deve ser habilitado na realização de atividades complexas, além de possui qualidades como liderança, discernimento, responsabilidade e prática.

O trabalhador de enfermagem, neste contexto, é visto como o profissional que está mais tempo em contato com o paciente, 24 horas diárias, e executam continuamente as ações de saúde com este público, o que expõe este trabalhador, em maiores proporções, a estes riscos, visíveis ou não¹.

Nessa perspectiva, outro aspecto apontado como fator estressor na UTI na percepção da equipe de enfermagem foi o vínculo que se constrói entre paciente e profissional da enfermagem, em virtude do grande tempo em que passam com os pacientes, tendo em vista o que Hanzelmann e Passos¹ destacam que o profissional passa 24 horas diárias com os pacientes, tendo contato direto com os doentes, compreendendo que o restabelecimento é incerto e nem sempre será completo como alerta Silva et al.10.

Nesse sentido, os participantes da pesquisa salientam insistentemente durante a entrevista que, pela especificidade da UTI, os profissionais da enfermagem precisam lidar com a morte diariamente, o que comprova a afirmação de Cabral et al.7 ao afirmar que o enfermeiro precisa lidar com situações de emergência, lidar com o sofrimento e a morte. Dessa maneira, considerando os vínculos construídos com os pacientes, isso se torna um fator estressor dentro do ambiente, concordando-se com Guerrer e Bianchi4 quando salientam que a assistência prestada aos pacientes na UTI é composta por um misto de emoções e sentimentos que são expressados de forma muito intensa, o que se ilustra quando os participantes da pesquisa apontam como fatores estressores o atendimento de pacientes graves e o acolhimento de suas famílias.

Além disso, alguns participantes da pesquisa pontuam o adoecimento de muitos profissionais, que, pelo fato do contato direto com o paciente em inúmeros momentos na UTI, geram consequências para estes profissionais, revelado por Aversari15 como a exposição a infecções através de ferimentos, contato de membrana, mucosa ou pele com sangue ou outros fluidos corpóreos potencialmente infectados.

Além disso, a sobrecarga de trabalho e longos plantões sem os devidos intervalos para descanso e alimentação, como sinalizam os participantes desta pesquisa como fatores estressores diários nas UTI’s, também podem contribuir para o adoecimento dos profissionais da equipe de enfermagem, tendo em vista o que Ferreira e Martino16 afirmam sobre trabalhadores estressados na equipe serem mais susceptíveis à ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais, pois, concorda-se com Guerrer e Bianchi4, quando mencionam que o excesso de trabalho e o acúmulo de funções podem causar desgaste físico e psicológico no profissional.

Os resultados também revelam que o estresse ocupacional conforme a percepção da equipe de enfermagem é muito subjetivo, uma vez que, embora a maioria dos participantes entrevistados confessasse que a UTI é um ambiente com inúmeros fatores estressores, alguns participantes da pesquisa alegaram não considerar a UTI um ambiente estressante e ainda afirma gostar muito de trabalhar neste setor hospitalar. Assim, constata-se o que Grazziano e Ferraz17 concebem sobre a subjetividade da avaliação do estresse ocupacional, concluindo que um profissional pode interpretar como uma ameaça ao seu lazer, ao convívio com a família, entre outros, enquanto que outro pode interpretar como um desafio.

Portanto, faz-se necessário o que Oliveira12 destaca: a garantia de qualidade no cuidado dos profissionais da enfermagem em UTIs, sendo necessário assegurar condições dignas e favoráveis de trabalho, respeitando-se o número mínimo de profissionais, disponibilizando materiais adequados e suficientes para um bom e seguro desenvolvimento do trabalho, promovedo menor incidência de agravo à saúde dos trabalhadores, com a redução da sobrecarga de trabalho, o que contribui, ainda, para diminuir os riscos à saúde dos pacientes. Logo, concorda-se com Garcia6 ao afirmar que faz-se fundamental priorizar a qualidade da assistência positivamente em prol da segurança do paciente, proteção da integridade da equipe de enfermagem, com vistas à construção de um ambiente mais humanizador.

As pesquisadoras observaram que os participantes da pesquisa demonstravam exaustão, preocupação e muita ansiedade durante a pesquisa. Muitos se mostraram frustrados com o ambiente de trabalho que gera muita pressão aos profissionais da equipe de enfermagem.

Além disso, foi possível que as pesquisadoras detectassem muitos ruídos na UTI, vindo de muitos aparelhos ou durante procedimentos realizados pelos profissionais, o que dificultou no momento da análise das gravações que algumas falas ficaram comprometidas por conta do barulho. Além disso, mesmo tendo explicado que estavam participando de um estudo, os participantes eram pressionados pelos demais membros da equipe a concluírem logo suas entrevistas, pois deveriam retornar às suas funções imediatamente.

As pesquisadoras analisaram muitas falas dos participantes da equipe de enfermagem como desabafos, evidenciando que estavam insatisfeitos com seu ambiente de trabalho em virtude de diversos fatores estressores como acima revelado.

Pode-se perceber que o fluxo de pessoas na UTI é intenso e, durante a pesquisa, observamos que o número de leitos é muito grande, porém o número de funcionários é reduzido, gerando um clima de estresse, constatado nas falas de muitos profissionais que participaram da pesquisa.

Logo, foi possível comprovar que a Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente que possui inúmeros fatores estressores, o que foi evidenciado pelas entrevistas e pela observação das pesquisadoras.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa constatou que a Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente com inúmeros estressores, tais como ruídos, falta de materiais, desconhecimento do manuseio do uso de tecnologias, procedimentos rápidos, local de trabalho insalubre, atendimento de pacientes graves e assistência às suas famílias, número reduzido de funcionários, sobrecarga de trabalho, longas jornadas de trabalho sem intervalo de qualidade para alimentação e repouso.

Essa realidade contribui para algumas consequências como o adoecimento dos profissionais que ficam expostos diariamente no contato diário com pacientes acometidos de quadro clínico grave. Além disso, o aspecto emocional destes profissionais é bastante afetado tendo em vista que lidam com a morte diariamente constroem laços com seus pacientes.

Nessa perspectiva, faz-se imprescindível que as instituições hospitalares se adequem às legislações que orientam o desenvolvimento do trabalho nas UTIs, priorizando a integridade física e mental dos profissionais da equipe de enfermagem, de modo a respeitar suas emoções, capacitá-los para a qualificação no trabalho, instrumentalizá-los corretamente e com materiais de qualidade, valorizar a atuação deste profissional dentro das unidades de terapia intensiva.

Logo, é de extrema importância que seja construído um espaço humanizador, no qual seja prioritária a dignidade da pessoa humana, da vida e também da morte, uma vez que a relação paciente-enfermeiro deve ser considerada e respeitada como parte integrante do processo de enfermagem dentro da UTI. Assim, pode-se consolidar este espaço como um lugar no qual os pacientes, seus familiares e os profissionais se sintam seguros, acolhidos e valorizados.

 REFERÊNCIAS

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Guerrer FJL, Bianchi ERF. Caracterização do estresse nos enfermeiros de unidades de terapia intensiva. Rev da Escola de Enferm da USP, 2008; 42(2).

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